Felizmente, temos muitos cientistas a estudar o vírus em simultâneo, o que já nos permitiu saber muito sobre ele. Mas isto significa também que todos os dias há novidades e que, muito provavelmente, as diretrizes vão continuar a ser alteradas a um ritmo difícil de acompanhar.

Se lhe oferecessem a vacina hoje, o que faria? Ficaria indecisa? Compreendemos!

Por isso, decidimos responder às 10 questões mais frequentes sobre o tema, para que se sinta preparada para uma eventual decisão de aceitar ou não a vacina.


1. Se contrair COVID-19 enquanto grávida, que riscos estou a correr?

Dois terços das mulheres grávidas não apresentam sintomas, mas o risco clínico aumenta se for contraída a partir das 28 semanas de gestação.

Grávidas que contraem a infecção a partir das 28 semanas, e desenvolvem sintomas severos, têm uma probabilidade três vezes maior de entrar em trabalho de parto prematuro do que uma grávida não-infectada ou assintomática.


2. Posso transmitir COVID-19 ao meu bebé?

A evidência até ao momento sugere que é muito improvável que exista transmissão de COVID-19 de mãe para feto, e que não aumenta o risco de aborto. O risco de afetar o bebé está maioritariamente presente nos casos em que a grávida é portadora de condições médicas graves.‍


3. Já foram estudados os efeitos da vacina na gravidez?

Inicialmente, as grávidas foram excluídas dos ensaios clínicos das vacinas contra a COVID-19, pelo que não era possível provar se a imunização seria ou não prejudicial para mãe e bebé. Porém, estão neste momento a decorrer estudos que já incluem grávidas, e certamente teremos novidades em breve. Investigação à parte, muitas grávidas pelo mundo fora já decidiram receber a vacina, por serem portadoras de outras doenças, o que já nos dá alguma indicação sobre os efeitos secundários.

A OMS e as maiores organizações mundais de obstetrícia (CDC, ACOG, SMFM) todas recomendam oferecer a vacina a grávidas e a mães a amamentar.


4. Enquanto grávida, faço parte de um grupo de risco?

Não é ainda claro, mas estudos que estão a surgir começam a indicar que sim. A gravidez, no geral, fragiliza o sistema imunitário, o que aumenta o risco de contrair viroses como a gripe e listeriose. Possivelmente, o mesmo se aplica ao COVID. Sabe-se que estão em maior risco de serem afetadas as mães com mais de 28 semanas de gestação, com mais de 35 anos, com excesso de peso e com condições clínicas como asma, hipertensão, diabetes e imunodepressão.


5. Sou uma utente de baixo risco. Devo considerar a vacina?

Na grande maioria dos casos, especialmente em grávidas de baixo risco e sem historial clínico significativo, o benefício de levar a vacina será superior aos riscos de não a levar.

A decisão final deve ser sempre da mãe, que deve fazer uma escolha devidamente informada: ou arrisca, de forma consciente, para que se possa proteger (e ao bebé) de uma possível infeção por COVID-19 ou aguarda que novos estudos sejam divulgados – assumindo que corre o risco de contrair COVID-19 enquanto espera pelas recomendações oficiais.


6. Quais são os riscos e os benefícios associados à vacinação na gravidez?
BENEFÍCIOS
– A vacinação é uma forma de prevenção da infeção por COVID-19 com eficácia vastamente comprovada.
– Até à data, um grande número de grávidas já foi vacinada (acima de 90.000 só nos EUA) e não foram reportados efeitos secundários graves.
– A recomendação de parar de amamentar para levar a vacina não tem fundamentação científica.
– Para além de não fazer mal aos bebés, pode ainda fazer bem: começaram a aparecer os primeiros casos em que bebés de mães vacinadas receberam anticorpos contra a COVID-19 através da placenta ou do leite materno.
– A vacina não tem ingredientes adicionais que possam prejudicar a mãe ou o bebé (tal como as vacinas da gripe e da tosse convulsa).
– As marcas Moderna, Pfizer BioNTech e Johnson&Johnson são consideradas mais seguras na gravidez e para pessoas abaixo dos 30 anos de idade, por terem sido estudadas em animais em período de gestação.
– Existe uma potencial redução de transmissão da COVID-19 aos outros membros da família.

RISCOS
– Não existem ainda estudos dos efeitos da vacinação na gravidez em larga escala.
– Se a grávida contrair COVID-19 e manifestar sintomas graves, nomeadamente a partir das 28 semanas de gestação, o risco de internamento, de ventilação assistida e de mortalidade materno-fetal aumenta significativamente.
– Alguns profissionais de saúde podem ainda  aconselhar a mulher grávida a deixar de amamentar se quiser levar a vacina, por não existirem estudos a provar ser seguro.
– Os efeitos secundários da vacinação podem ser causadores de mal-estar significativo, apesar de serem de curta duração: dores de cabeça, dores no local da injeção, fadiga, dores musculares, febre e arrepios são os mais comuns.
– Casos raros (4:1000000) mas severos de trombose venosa (coágulos sanguíneos) têm sido reportados por todo o mundo em pessoas vacinadas com a marca AstraZeneca.


7. Importa a fase da gravidez em que estou para levar a vacina?

Não necessariamente, mas por precaução tem sido recomendado que seja após as 13 semanas de gestação (por as primeiras 12 semanas serem tão vulneráveis e cruciais para o desenvolvimento do bebé) e antes do último trimestre, por estar provado que os efeitos na COVID-19 a partir das 28 semanas serem mais severos.


8. Que grávidas correm maior risco se contrairem COVID-19?

As grávidas:
– Com sistema imunitário comprometido, diabetes, asma, hipertensão ou patologias cardíacas (associadas ou não à gravidez);
– Que têm excesso de peso;
– Com mais de 35 anos;
– Que já ultrapassaram as 28 semanas de gestação.


9. O que devo fazer quando for chamada para a vacina?

– Lembre-se que a decisão final é sua;
– Se tiver alguma das condições referidas acima, deve realmente considerar aceitar a vacina;
– Deve explorar bem os riscos e benefícios para uma escolha informada, para além dos efeitos secundários de cada vacina disponível, e discuti-las com o profissional de saúde que acompanha a gravidez;
– Deve voltar a confirmar os mesmos efeitos secundários com a pessoa que lhe vai administrar a vacina;
– Se decidir que prefere uma determinada marca em detrimento de outra, informe o seu médico, para que possa facilitar esta administração.


10. Se optar por não levar a vacina, ou não me for oferecida até o bebé nascer, como me posso proteger?

Com as mesmas medidas de higiene e segurança recomendadas pela DGS até hoje:
– Resguarde-se o mais possível: se puder trabalhar em casa, converse com a sua entidade patronal;
– Evite ao máximo momentos sociais e receber visitas em casa, mas se sentir que o seu bem-estar físico e mental está a ser bastante comprometido pelas restrições, deve ponderar bem quem aceita incluir na sua bolha e tomar todas as precauções possíveis;
– Lave frequentemente as mãos com água e sabão e/ou uma solução à base de álcool;
– Mantenha uma distância segura de 2 metros de qualquer pessoa que não faça parte da sua “bolha”;
– Use máscara sempre que sair de casa e em casos em que o distanciamento físico não é possível;
– Não toque nos olhos, no nariz ou na boca sem desinfectar as mãos primeiro;
– Cubra o nariz e a boca com o cotovelo fletido ou um lenço quando tossir ou espirrar;
– Se se sentir doente, fique em casa;
– Se tiver febre, tosse ou dificuldades respiratórias, procure assistência médica;
– Depois de ter o bebé, evitem ao máximo receber visitas em casa. Se tudo correr bem, em breve vai haver muito tempo para conhecerem o vosso rebento!

Em breve, publicamos um artigo sobre a vacinação em mães a amamentar!


Referências:
Zambrano LD, Ellington S, Strid P, Galang RR, Oduyebo T, Tong VT, et al. Update: Characteristics of Symptomatic Women of Reproductive Age with Laboratory-Confirmed SARS-CoV-2 Infection by Pregnancy Status – United States, January 22-October 3, 2020. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 6 de Novembro de 2020;69(44):1641–7