Celebrar o mês do Pride com a história mais bonita
“Costumas apanhar casais de lésbicas lá na maternidade?”, perguntam-me a família e os amigos frequentemente.
Vou contar-vos uma história que me marcou muito (e que partilho sempre com um brilho nos olhos)!
Foi num dia de trabalho, em que estava a fazer visitas domiciliares de pós-parto pelas ruas de Londres. Nos nossos diários, levamos apenas os detalhes da mãe e do bebé – gémeos, neste caso.
Quando bati à porta, quem a abriu foi um homem de boxers (acreditem, a malta aqui pode ser muito relaxada!). Disse bom dia, apresentei-me e ele levou-me até ao quarto onde estavam a mãe e os gémeos de 5 dias. Um gémeo estava a mamar, o outro no berço. A mãe estava com um ar cansado mas feliz! Disse-me logo que estava com um dos peitos muito cheios, e perguntou-me que bomba de extração de leite é que eu recomendava. Eu dei algumas opções, e ela disse: “ok, vou então ligar à minha parceira, que ela foi à loja para comprar uma”. Pronto, eu entendi, duas mamãs. Mas então onde encaixava o homem que me abriu a porta? É que ele entretanto também estava sentado em cima da cama connosco (e ainda de roupa interior)…
Continuei a minha avaliação, sempre a conversar com eles – com muito cuidado, não fosse eu meter o pé na argola. De repente, ouvi uma porta a abrir e chegou um outro homem, ainda molhado e de toalha à cintura. O homem que estava em cima da cama disse “Oh, olha, a enfermeira está cá”. Depois virou-se para mim e disse “este é o outro pai!”.
Ok, aqui eu já não aguentei mais. Estava extremamente baralhada e já não me conseguia concentrar no que estava a fazer.
“Desculpem a pergunta, mas estou extremamente confusa e não quero excluir ninguém importante da conversa… como é que vocês estão relacionados aos bebés?”.
A mãe, super divertida, esclareceu-me logo: “então, nós somos dois casais: eu e a minha namorada somos um, eles são outro. Conhecemo-nos aqui em Londres, somos muito amigos e todos queríamos ser pais. E então olha, aconteceu falarmos sobre a possibilidade de usar o esperma de um deles para eu engravidar, por inseminação. E assim todos podemos ser os pais dos bebés! Somos uma grande família!”.
A mãe, super divertida, esclareceu-me logo: “então, nós somos dois casais: eu e a minha namorada somos um, eles são outro. Conhecemo-nos aqui em Londres, somos muito amigos e todos queríamos ser pais. E então olha, aconteceu falarmos sobre a possibilidade de usar o esperma de um deles para eu engravidar, por inseminação. E assim todos podemos ser os pais dos bebés! Somos uma grande família!”.
Eu não sei o que pensei na altura. Acho que foi uma mistura de “isto é demasiado para processar” com um “uau, isto é incrível!!!!”. Aquela família borrifou-se completamente para os standards da sociedade e juntaram-se todos para criar a maior bolha de amor que aquelas crianças poderiam ter. Se há quatro pessoas que as podem amar de forma incondicional, porque não? Se podem multiplicar os momentos felizes, porque não? Se podem dividir as responsabilidades, porque não? Juro, conhecer esta família mudou a minha família para sempre. Cheguei a casa e quis logo partilhar – não por “cusquice” mas por orgulho alheio, pela felicidade de me ter cruzado com algo tão especial na minha carreira.
Hoje, partilho com vocês. Porque é importante lembrar, não só no mês do Pride mas sempre, que nem todas as famílias são um pai, uma mãe e um e dois filhos. É preciso um homem e uma mulher para conceber, mas não para compôr uma família. Elas existem de todas as cores, formas, tamanhos e feitios, e o que as torna bonitas não é serem parecidas ou diferentes das que estamos habituados a ver: são os seus valores e o amor que têm para dar.
Não voltei a encontrar núcleos familiares tão grandes como este, mas cruzo-me regularmente com casais do mesmo sexo. E digo-vos: em nada são diferentes. Têm os mesmos medos, expectativas, dúvidas e emoções. Dão a mão da mesma forma, cortam o cordão umbilical com as mesmas mãos a tremer e pegam no bebé com o mesmo amor nos olhos. Tenho o orgulho de fazer parte de uma equipa que não discrimina e aceita cada família como é – e deixem-me acrescentar que tenho muitas colegas já reformadas e muito católicas (aliás, tenho colegas freiras!). Não há cochichos na passagem de turno, não há olhares indiscretos. Há empatia e, se tanto, uma curiosidade genuína, que é sempre recebida pelos casais com um grande sentido de humor. Adoram partilhar a sua história e os seus desafios como tantos outros pais.
É tão simples, não é? Porquê complicar a vida de quem ama?
P.S: Só para esclarecer: De acordo com os estudos, sabem quais são as consequências na personalidade de uma criança se ela for criada por homossexuais? Zero.